25.7.16

Bons amigos (bons).

Caravaggio, cuja origem do nome, embora escusa de relatos maiores, é um empolgante regresso às origens. Já lá vão uns anos bons desde que mo apresentaram. Escrevo como penso. Foi um amigo bom, daqueles meio sacanas e atrevidos, que guardam no intelecto e no geral, bem mais do que o azougar nas horas vagas. Do que acautelar os instintos na sede da pele. Que, não vamos retirar o crédito devido, também é importante. Não será, em tempo algum, de somenos relevância. Mas voltemos ao artista, ao outro. A Caravaggio e à sua obra. No passado, quando eu era bastante jovem, miúdo até, contou-me o seu percurso, influência e irreverência natural. Esse amigo, em abono da verdade, amigo do meu pai, depois por convivência, amigo da minha mãe e, por inevitabilidade do destino, meu bom amigo. Eu, um petiz interessado, ele um homem sabedor, conhecedor do mundo e das voltas que dava. Levava Portugal num bolso, como fazia por repetir e voltava com o mundo no peito. Arranjei-lhe, na imaginação, um peito que não tinha fim. A altura e robustez do tipo ajudavam. Paulatinamente, fora revelando-me mais pormenores, outras obras. Ganhei, se não for exagero, um certo fascínio. Pelo homem e pelo artista, pelas obras igualmente. A enumeração serve a ambos. Ainda converso sem fim com este homem grande. Hoje de cabelo grisalho e dono das mais convincentes histórias. Cruza as pernas e esse pode ser o mote. Fora solteiro até tarde, casou por amor e ganhou. Só acrescentou. Hoje de corpo ainda vivaço, não pega num cigarro e dá corda aos ténis. Traz um livro na mala e esse pode ser o mote. Hoje ainda enche o bolso da nacionalidade que não esquece. Enche o peito de folgo, faz-se ao mundo e volta cheio. Esse pode ser o mote. Tal como Caravaggio fora lá atrás.

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