Vim
pela rua, sob um frio nada vulgar, sobre a calçada nacional, com a vontade de
contar mentalmente os pontos de luzes a enfeitar, a cabeça a magicar. Larguei
os sapatos bonitos e os ténis divertidos. Trouxe as botas felizes. Um lenço
farto ao pescoço, o casaco capaz a cobrir o corpo. Vim pela rua secundária, com
as luzinhas a desenhar a época. Hei-de desaguar no largo, logo adiante, cuja
árvore central brilha e agiganta-se. Rodeada, claro, por petizes animados, pais
atentos, amigos em poses peculiares e outros a passar, cúmplices da feitura do
quadro. Sem apressar o passo, cheguei antes da hora marcada. Feitio que, com
gáudio, teimo em não desperdiçar. Recebido com toda a pompa, sem que assim
exigisse a circunstância, respondi com um sorriso comedido. Surge, de entre as
cabeças aglomeradas, aquele que nos junta por ora, e de cara leve, dirige-se a
mim e lança-se num cumprimento efusivo. Fui recebido assim. Depois pela senhora
que enverga um cargo sonante. Depois por este, a seguir por aquele, ainda outro
e outros tantos. A todos e sem excepção, agradeci a amabilidade e as honrosas
palavras. A sala começa a compôr-se, o burburinho não perdoa, os candeeiros
empinocados dão outra dimensão a tudo. E a todos. Num olhar furtivo, encontro
um rosto verdadeiramente cúmplice. A distância que a sala impõe, as conversas
de situação e a comedida emoção, vetaram uma precipitada reacção. Mais adiante,
quando a noite corria longa e prometia roubar largar horas, trocámos um beijo
no rosto com demora. Cedemos no sorriso que denuncia. Dezembro, esta altura do
ano, é um bom acaso para o descaso de, por fim, nos voltarmos a cruzar. À
janela, antevendo a prosa adiada, ficámos sem pressa. Neste embrulho sereno.
Voltei pela rua, contido no mesmo frio pojante, sobre as mesmas pedras da
calçada e, desta feita, com toda a vontade de mentalmente recordar e garantir
que a razão sobrepõe-se a tanto. Até que chegamos a Dezembro, cedemos no
cumprimento e emburulhamo-nos em luzes. Em tantas, quantas a necessidade.
Nem embrulhado em luzes. Não gosto de Dezembro. Não consigo. Não posso. Por mais que tente. Não dá.
ResponderEliminarÓptimas entradas para ti, Real Desprovido!
Mam'Zelle,
EliminarLastimo sempre que me atraso. E retrato-me por isso. Antes tarde.
Prefiro outros meses e outras temperaturas, confesso. Dezembro é alusão a tanto. Talvez por isso, a necessidade de o embrulhar. Seja em luzes, seja em acções que fogem do nosso caminho anual.
Fico-me, se possível, pelo calor de outros dias. :)
Entrei como se quer, sem grandes alaridos. A ver vamos no que resulta.
Que assim tenha sido por aí. Sempre com a pequena de mão dada. ;)
:)
ResponderEliminarAnabela,
EliminarBem-vinda! :)