16.3.17

Distintos num dia de Março.

Surgem, logo depois do prédio antigo, de mãos dadas. Ela traz o sorriso bonito. Ele com o olhar sempre atento. Carregam, nas mãos enlaçadas e nos rostos harmoniosos, a comunhão entre a viagem feliz e a paixão. Deixei-me aventar. Denunciam ser turistas. O físico não desmente, as mochilas também não. Abordaram-me pedindo indicações. São escoceses e falam português. Com o sotaque do Brasil. A América do Sul foi poiso durante uma temporada. Tecem elogios largos à cidade, às pessoas disponíveis e à luz que não cessa. Prometem voltar, para matar as saudades do paladar. Garantem o regresso, por levarem na bagagem a sintonia do país. Agradeço-lhes as palavras bonitas e encaminho-os para o destino pretendido. Cruzar gente boa não tem qualificação. Ultrapassa qualquer cotação. Invisto no meu trajecto, pois já vou tarde. Cumprimento a senhora da ourivesaria, amiga de longa data da família. Pergunta-me pelos pais, pelas irmãs e, claro, pela avozinha. Vejo-a desgastada, com as mazelas que a idade causa. Lembra que a saúde é fraca, que o tempo passa e que me conhece deste tamanho – levou a mão o mais baixo que a coluna dorida lhe permitiu. É verdade, sim senhora. Diz-me que cresci bem e fiz-me um garboso rapaz. Sou fã assumido dos velhos, da sua posição e da palavra que entregam com outro gosto. Não esqueço o marido – já falecido - mas prefiro não trazer à memória. Pergunto pela filha, que a sei doente. Leva como Deus quer, respondeu. Foi aí que os olhos marejaram. Passei a mão pelo ombro, trocámos dois beijos e vim embora. Entravam duas clientes, que pelo bom dia percebi serem velhas conhecidas. Garantidamente, é nestas ocasiões que as minhas palavras são parcas. Não é que não as tenhas, é o respeito que todos os detentores de muita idade me merecem. Em suma, as pessoas boas deixam-me francamente sensibilizado.

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