Surgem,
logo depois do prédio antigo, de mãos dadas. Ela traz o sorriso bonito. Ele com
o olhar sempre atento. Carregam, nas mãos enlaçadas e nos rostos harmoniosos, a
comunhão entre a viagem feliz e a paixão. Deixei-me aventar. Denunciam ser
turistas. O físico não desmente, as mochilas também não. Abordaram-me pedindo
indicações. São escoceses e falam português. Com o sotaque do Brasil. A América
do Sul foi poiso durante uma temporada. Tecem elogios largos à cidade, às
pessoas disponíveis e à luz que não cessa. Prometem voltar, para matar as
saudades do paladar. Garantem o regresso, por levarem na bagagem a sintonia do
país. Agradeço-lhes as palavras bonitas e encaminho-os para o destino
pretendido. Cruzar gente boa não tem qualificação. Ultrapassa qualquer cotação.
Invisto no meu trajecto, pois já vou tarde. Cumprimento a senhora da
ourivesaria, amiga de longa data da família. Pergunta-me pelos pais, pelas
irmãs e, claro, pela avozinha. Vejo-a desgastada, com as mazelas que a idade
causa. Lembra que a saúde é fraca, que o tempo passa e que me conhece deste
tamanho – levou a mão o mais baixo que a coluna dorida lhe permitiu. É verdade,
sim senhora. Diz-me que cresci bem e fiz-me um garboso rapaz. Sou fã assumido
dos velhos, da sua posição e da palavra que entregam com outro gosto. Não
esqueço o marido – já falecido - mas prefiro não trazer à memória. Pergunto
pela filha, que a sei doente. Leva como Deus quer, respondeu. Foi aí que os
olhos marejaram. Passei a mão pelo ombro, trocámos dois beijos e vim embora.
Entravam duas clientes, que pelo bom dia percebi serem velhas conhecidas.
Garantidamente, é nestas ocasiões que as minhas palavras são parcas. Não é que
não as tenhas, é o respeito que todos os detentores de muita idade me merecem. Em
suma, as pessoas boas deixam-me francamente sensibilizado.
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