Vinha
de óculos escuros - uma oferta que vem de outros cenários, que me deixou feliz
e que são, por estes dias, os meus preferidos - a rir-me para o miúdo que,
passos à minha frente, exercitava a garganta, numa cantoria sem fim. Desconheço
a autoria, mas deve ser um dos sucessos da actualidade infantil. Ao colo da que
imagino ser a mãe, trauteava, ora com onomatopeias, ora com frases feitas. Os
caracóis cheios de graça, num balanço certeiro com a passada da mãe. Segurava,
firme e com confiança, um pequeno cavalo preso por um fio. Não guardemos
dúvidas, os putos são o mais importante e interessante da sociedade. Logo,
capazes de absorver o melhor que tenhamos para lhes dar. E o melhor, esperamos,
é a sabedoria emocional que transformar-se-á nas ferramentas para que, um dia
adulto, exercite os seus deveres e direitos com a harmonia necessária. Com o
respeito que tanto falta. Pecamos sempre que ignoramos a responsabilidade que
temos na educação e formação de um miúdo. Na atenção que lhe devemos. Não é
preciso ter o nosso sangue, basta ser coabitante neste espaço que se quer
socialmente saudável. Lastimo sempre que encontro pessoas que, num desgoverno
de relação, avançam para a gravidez como o reduto da salvação. Ganhem juízo,
apetece-me pedir-lhes. Uma amiga de longa data, hoje mais conhecida do que dona
de outro estatuto, por força da distância física e do afastamento que a relação
forçou de tudo e todos, está grávida. Esboça um sorriso e guarda o verbo
animado na ponta da língua. Mas todos temem. A família agasta-se, os olhos
estão pesados. Dir-se-ia que está num esforço suplementar para não deixar de
tentar. É transversal. Dos elementos do topo à franja da base. E, restou-me,
desejar-lhe o melhor e lembrar que estamos todos no lugar de sempre. Que seja a
melhor das viagens.
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