15.3.17

Uma canção feita de razão.

Vinha de óculos escuros - uma oferta que vem de outros cenários, que me deixou feliz e que são, por estes dias, os meus preferidos - a rir-me para o miúdo que, passos à minha frente, exercitava a garganta, numa cantoria sem fim. Desconheço a autoria, mas deve ser um dos sucessos da actualidade infantil. Ao colo da que imagino ser a mãe, trauteava, ora com onomatopeias, ora com frases feitas. Os caracóis cheios de graça, num balanço certeiro com a passada da mãe. Segurava, firme e com confiança, um pequeno cavalo preso por um fio. Não guardemos dúvidas, os putos são o mais importante e interessante da sociedade. Logo, capazes de absorver o melhor que tenhamos para lhes dar. E o melhor, esperamos, é a sabedoria emocional que transformar-se-á nas ferramentas para que, um dia adulto, exercite os seus deveres e direitos com a harmonia necessária. Com o respeito que tanto falta. Pecamos sempre que ignoramos a responsabilidade que temos na educação e formação de um miúdo. Na atenção que lhe devemos. Não é preciso ter o nosso sangue, basta ser coabitante neste espaço que se quer socialmente saudável. Lastimo sempre que encontro pessoas que, num desgoverno de relação, avançam para a gravidez como o reduto da salvação. Ganhem juízo, apetece-me pedir-lhes. Uma amiga de longa data, hoje mais conhecida do que dona de outro estatuto, por força da distância física e do afastamento que a relação forçou de tudo e todos, está grávida. Esboça um sorriso e guarda o verbo animado na ponta da língua. Mas todos temem. A família agasta-se, os olhos estão pesados. Dir-se-ia que está num esforço suplementar para não deixar de tentar. É transversal. Dos elementos do topo à franja da base. E, restou-me, desejar-lhe o melhor e lembrar que estamos todos no lugar de sempre. Que seja a melhor das viagens.

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