17.4.17

Nove horas e parcos minutos.

Devo trazer um ar agastado, o rosto por ele desenhado. A afirmação de uma noite que se fez longa, da companhia que não dá folga. De uma semana que lhe antecedeu e foi demorada e trabalhosa. Logo me assomei à rua, pergunta quem me espera se a noite, para além de longa, foi boa. Devo ter esboçado uma resposta breve. Trago os olhos vestidos pelos BOSS de todas as paragens. O corpo temperado sobre os ADIDAS que são novidade. O perfume que foi uma oferta acertada. O relógio, cuja bracelete entrança-se num cinza inocente, invariavelmente, no pulso direito. No carro, deixo que o jazz desenhe o ambiente. E não podia ser melhor. Soa como não há explicação. Em resposta ao som, dizem-me que sou requintado. Largo um sorriso vistoso. E insiste que sou bem desenhado. Que invisto sempre no outro lado. Não será totalmente verdade, mas deixo-me acreditar. Passa a mão esquerda na minha perna direita e o silêncio aconteceu. Falou sem cessar, sem da palavra precisar. Nisto, já o jazz cedeu o lugar. Agora temos reggae. E a atmosfera não esmoreceu. Inverteu e não deixou ficar mal. Sou a garantia de que a extensão dos gostos vive em harmonia com um só ser. Com um corpo e uma mente bem ligados. És como sempre foste, deixou fugir. Mesmo que o sempre tenha começado há um nada de dias. Mesmo que o sempre venha de longe. Isto, a propósito do mistifório que engendro na forma como estou e sou. Chegámos. Espero que termine a chamada. Estão à nossa espera. Num espaço recentemente inaugurado, simulando um duplex improvisado. Os metais são as teias que o seguram. Nunca a arquitectura serviu a metáfora de uma forma tão singela e, ao mesmo tempo, tão certeira. Um passo atrás, deixei-me ir. A acompanhar, a vê-la caminhar.

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