18.5.17

Em diferido. #59

Virente memorizar - Rabiscar a parede como se fosse uma tela. Permitir carburar as ideias, burilar sobre o branco limpo, o que se lhe assoma no intelecto. Desde que me lembro, guarda-a para o efeito. Ora desenha com o traço fincado, ora risca com o desmérito que promove. Ambas resultam numa obra digna daquela exposição. O talento jorra-lhe das mãos, dedica-se nas horas desocupadas e São Francisco, não tão longe, é a razão. Coloca música para guardar o ambiente, boa música no caso. Não é de hoje que o talento é ocasião para a reunião, que já não esqueço as horas ininterruptas que lhe oferecemos. Logo jovens adultos, numa inconstante procura e numa vontade com constância. Espargimos sobre a época todas as nossas capacidades. Com todas as certezas, despendemos largas horas às tertúlias fecundas e às sem ornatos também. À viola do mestre e ao olho atrevido para a fotografia. À prosa escorreita e à poesia que roborizava e deslustrava. Às cartas e aos jogos que instigavam a fuga à denúncia do olhar. Um armazém de pendulares memórias. Ali, verticais, à espera de quem passa. Porque há algum tempo que não coloco a vista em cima, mandou-me, ontem ao final da tarde, imagens de mais um pormenor. Rabiscar a parede como se fosse uma tela é aumentar o préstimo do que nos rodeia. É aconselhar a percepção intelectual. E deles, retirar o melhor.

2 comentários:

  1. Tão bom! Ter paredes cheias de rabiscos cheios de emoção, amizade, companheirismo 😊
    Beijos!!

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    1. Entas,
      Que grande visita! ;)
      Melhor ainda o regresso.
      É verdade, enumeraste o fundamental: a emoção, a amizade e o companheirismo. Não há volta a dar, são pilares de qualquer relação. Depois, voltar àquele espaço e ter pedaços do que vivemos expostos numa parede, não tem léxico que justifique. :)

      Um beijo.
      Até já!
      E que seja um regresso duradouro. :)

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