23.5.17

Moderação dos dias.

Sento-me de fronte para o computador portátil, na cabeça traço um sem fim de ideias. Elaboro-as de um jeito precoce, ainda sem tempo para as desenhar no papel. Ameaço-me com a certeza de que muitas não vão avante. Ficam na intimidade dos meus desmazelados pensamentos. E, sem prejuízo, não me constrange, nem tira a liberdade. Hei-de arranjar espaço. O disco externo morreu, parece não fazer sentido. Mas cabe nele toda a cumplicidade. Nele, uma vida engolida. Perto do esquecimento. Tomo notas para me lembrar que os dias vão mudar. Lixei um dedo com uma inócua - contudo potente arma - folha branca. Lancei um palavrão ao ar. Faço uma pausa. Descarrego um café. Não lhe coloco açúcar e deixo-o temperar com um curto descanso. Assomo-me à janela. Tudo como dantes. Nesta travessa há descanso. Na rua seguinte, avançam carros sem cessar. Volto ao computador, a regra mantém-se. Tudo como dantes. Sigo entre e-mails antigos, a recuperar pendências. Ligo uma vez mais o som, para fazer companhia. No telemóvel um dos grupos pergunta para quando uma conversa pelo Skype. A verdade é que venho procrastinando, à espera de dias mais propensos. Que não chegam. Com promessas de que é sempre amanhã, no máximo depois. Afastando-me dos copos de vinho que não partilhámos, da prosa que deixámos pendente. Dos rumores que não chegam a verdades contadas. Chega mais uma cobrança e não me sinto confiante com o termo. Não me obrigam, não me maniatam nem constrangem. É a saudade da distância a tomar as rédeas. E tristes os dias em que o inverso se torne na norma. Tenho de tentar salvar os documentos putativamente perdidos no disco externo. Há sempre quem nos acorde. E não merece senão gratidão.

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