24.5.17

Moralmente salutar.

As desventuras dos outros, quando terrivelmente pesadas, não têm graça. Só as leves e com airosos acontecimentos associados. Pode parecer o fim do mundo, mas é momentâneo. Nos dias seguintes já ninguém recorda. Senão o protagonista. E esse, uns passos à frente, também já esqueceu. Ou guardou num lugar onde é fácil arrumar. Voltar lá e lembrar. Rir com alguém traz um prazer desmedido. Não importa o motivo. Principalmente com gente inteligente. Esses apuram os sentidos. Podes ser tu a personagem principal, pode ser o outro. Resume-se a minudências que não carecem de discussão. Como há dias, num jantar de amigos, em que alguém perguntava por uma antiga conviva. Só as memórias, de tão felizes, nos fizeram rir e guardar a certeza de que temos de nos juntar todos novamente. Hoje cruzamo-nos, eu e essa amiga, nas redes sociais. Vamos sabendo da evolução das vidas de cada um conforme partilhado. A distância física é tramada. Mas era uma amiga daquelas que faz a festa. Onde e com quem for. A diversão era garantida. Desde o primeiro minuto até ao último segundo. Como naquela noite, já lá vão uns anos largos, numa saída de amigos, em que o parque das nações foi pequeno para tamanha e efusiva excitação. O jantar bem regado. Na discoteca, o pé leve e dotado para a dança. Do que me lembro, pois sei que fiquei à conversa com uma jovem senhora que, embora no mesmo grupo, conheci naquela noite – Bastante interessante e cheia de prosa fluida e com garbo. Mais velha do que eu, profissional activa e apaixonada por viagens e, também por isso, dona de uma pinta sem classificação - Nessa noite, antes da discoteca passámos pelo Casino Lisboa e a minha amiga animada deixou-se prender na porta giratória. Feriu-se, mas felizmente sem gravidade. Mas não deixou de desfrutar. Na discoteca, nas escadas de acesso ao WC, fomos dar com ela feita em lágrimas, com um dos sapatos na mão. No fundo, estávamos todos à espera. Gozar a vida parece fácil mas, não poucas vezes, somos traídos. Apesar das advertências, ela insistiu em sair para jantar connosco. Foi o primeiro contacto com o ex-namorado, também nosso amigo, e com actual namorada da altura. Engolir em seco não é para todos. Mesmo para os festivaleiros de serviço. Depois disso já me ri com ela, sobre isto e outros assuntos. Hoje é uma mulher realizada. Casada, mãe e profissional. Agora dança a roda da vida com um tipo genuinamente bom, que a ama e cuida. É a prova de que o quotidiano se veste de fim do mundo vezes demais, mas que não é a garantia de nada. Ontem caímos, hoje somos mais felizes. De preferência, entre risos e gargalhadas pejados de ganas. Rir contigo é melhor do que rir sem ti. Pode ser sobre mim, pode ser sobre ti.

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